Uma morna manhã, antes de dar continuidade às minhas pretensões literárias, resolvi, momentaneamente, deixar de lado o oitavo capítulo de A Revolta dos Livros e me pus a pensar com meus botões: existe céu? Existe inferno?
De acordo com os evangélicos existe sim e um lugar lá é vendido em suaves prestações dominicais. Hoje, até com a comodidade do pagamento ser feito através de boletos ou cartões de crédito.
A Igreja Católica afirma que existe sim e somente os bons, os puros de coração sentarão ao lado do Senhor, mas não exige pagamento. Contribui quem quer ou pode.
Nessa linha de raciocínio o inferno também existe. Quem não contribui com o dízimo ou pratica o mal vai para o inferno. Alguns mais depressa que outros. Uns até compram o lugar no inferno negociando a vaga com o capeta, barganhando a alma por alguma benesse aqui na terra.
No céu, de uns tempos para cá, não deve existir mais uma vaga. Já venderam até o enésimo andar. Também pudera, com as facilidades de pagar o dízimo com cartão de crédito qualquer pobre arrisca comprar seu lugar, afinal eles também é filho de Deus.
Eu não acredito no céu, nem no inferno. Desde que o homem apareceu na face da terra (aliás homem ou macaco, pois que Adão e Eva não deviam ser agraciados com a beleza física, tão comum nos dias atuais) milhões de pessoas nasceram e morreram. Suponhamos que os mortos, desde o aparecimento do Homo sapiens, sejam duzentos milhões. Dividamos irmãmente esses mortos. Metade foi para o inferno, metade foi para o céu. Se o céu é tão bom como apregoam pastores e padres, nenhuma alma apareceu para nos contar sobre as belezas do lugar, ninguém foi convidado para ir lá e voltar apregoando o mundo de paz existente.
O que dizer então do inferno? Será que o capeta-chefe colocou grades intransponíveis sobre muros evitando fuga em massa? Os mortos do inferno estão todos em celas gigantescas pagando pelos crimes que cometeram em vida?
Quero acreditar que existe céu e inferno e um e outro coexistem pacificamente num lugar chamado Terra. Ainda assim permanece a dúvida que não sai da cabeça: qual o motivo de uns nascerem cegos, surdos, paralíticos, feios e outros bonitos, saudáveis e ricos? Qual motivo leva um ser humano, que ajuda seu semelhante padecer, anos e anos, sem assistência, num casebre qualquer, e o político que roubou da educação, da saúde, destinou dinheiro para construção de estradas, que depois da primeira chuva se enchem de buracos provocando acidentes que causam a morte de dezenas de pessoas, deita, dorme e morre de um infarto fulminante, praticamente sem sentir dor?
Há até uma anedota que traduz bem o que descrevi acima. Um velhinho morreu e foi prestar contas ao Senhor. Chegando no “céu” ele não se fez de rogado, foi logo desfiando seu colar de perguntas. Meu bom Deus porque o Senhor colocou terremotos no Chile, na Guatemala, na China, no Japão, na Turquia, tsunamis em Bali, no Japão, enchentes na China, no Peru, nos Estados Unidos, tempestades de neve na Europa e na Ásia, vulcões na Itália, Chile, Havaí e no Brasil o Senhor não colocou nada. Não temos terremotos, as enchentes são de pouca monta, não temos vulcões, tempestades de neve. Engana-se meu filho. No Brasil eu coloquei para compensar os políticos...
Mas o melhor mesmo é deixar padres e pastores digladiarem sobre a existência do céu e do inferno. A única coisa que tenho certeza é que meu cartão de crédito não está disponível para pagamento de qualquer espécie de dízimo.
E como diria o caipira mineiro ao ser perguntado sobre onde fica o céu. Ele aponta com o indicador, logo ali, seis léguas depois daquele morro. E o inferno? Logo depois, na primeira esquina depois do céu.
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