O que é a leitura, senão um dos primeiros sinais de amor de nós pais para com nossos filhos! Li recentemente que o governo federal pretende incentivar as editoras a publicarem livros que poderão ser vendidos por R$ 10,00. Li, também, que o Ministério da Cultura lançará, em breve, um programa destinado à publicação de livros, salvo engano serão empregados, aproximadamente R$ 28.000,000,00, quantia que temos certeza será em sua totalidade abocanhada pelas grandes editoras.
O brasileiro lê pouco. Onde está a raiz do mal? Antigamente, na época em que existiam os cursos primário e o ginasial e as pequenas cidades não possuíam mais do que dois ou três grupos escolares e uma escola estadual que ministrava aulas do primário ao ginasial, cada sala de aula tinha sua pequena prateleira com algumas dezenas de livros e nós, duas vezes por semana, um espaço reservado à leitura.
Foi a partir da alfabetização que tomei conhecimento dos livros de escritores como Perrault (Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida); Irmãos Grimm (A Gata Borralheira e Branca de Neve); Charles Dickens (Oliver Twist e David Copperfield); La Fontaine (O Lobo e o Cordeiro ); Esopo (A Lebre e a Tartaruga e O Logo e a Cegonha), sem falar em Monteiro Lobato com As Reinações de Narizinho, O Sítio do Pica-pau Amarelo e Ideias do Jeca Tatu.
Tive uma infância pobre. Pais semianalfabetos. Meu pai era guarda-fios dos Correios e Telégrafos, responsável por fazer o aceiro em determinado trecho da linha telegráfica. Semianalfabeto, mas não era cego ou desleixado com a educação de seus oito filhos. Assinava o jornal Correio da Manhã que demorava quatro dias, do Rio de Janeiro até Paracatu. Ele lia alguns cadernos do jornal e repassava aos filhos. Nem todos se interessavam pelas notícias. Eu ficava contando os minutos esperando o final da tarde, quando ele chegava do trabalho com o exemplar do Correio debaixo do braço.
Sabendo do gosto que tomara pela leitura, em parceria com um dos meus irmãos, comprou a primeira coleção de livros de nossa casa: Tesouro da Juventude, devorei em pouco tempo. Logo depois veio nova coleção intitulada Viagem Através do Brasil. Uma revolução em minha mente de menino que cursava a segunda série do curso ginasial. Um espetáculo inesquecível.
O dinheiro curto e a família grande, fez com que passasse a comprar livros esparsos. Li Gonçalves Dias, Machado de Assis, José de Alencar, Aníbal Machado, Coelho Neto, Bernardo Guimarães, Joaquim Manuel de Macedo e tantos outros.
Não podia ver um livro dando sopa e lá ia eu querendo devorá-lo.
Meu amor pela leitura nasceu em casa. Hoje, grande maioria dos pais, não têm a mínima condição de comprar um livro. A opção entre o pão e a leitura acaba sendo desigual. O pão acaba tendo mais valor. Não posso culpá-los totalmente. A estrutura escolar está mudada. Já não existe tanto incentivo para a leitura e produção de textos, em sala de aula ou como dever escolar.
Mas há outro senão. Os pais que têm condições preferem presentear os filhos com modernos telefones ou com videogames, uma maneira de dar um chega para lá, no filho que muitas vezes só deseja conversar um pouco.. E o pior: muitos até compram livros, os que eles querem que seus rebentos leiam, não aqueles que eles (os filhos) gostariam de escolher. Óbvio que o livro irá para uma estante esperando a poeira chegar.
A concorrência da rede mundial de computadores também fez com que diminuísse o número de leitores. Agora chegou o e-book, mas ele não veio ocupar o lugar do livro impresso, é apenas uma ferramenta a mais e, todas as grandes companhias estão ávidas por colocar à disposição de pretensos futuros leitores o maior número possível de títulos.
Acho que a proposta de incentivar a leitura reduzindo o custo do livro tem que passar primordialmente pela regionalização da publicação. Não acredito que exista empecilho para que o autor mato-grossense, acreano, roraimense ou amapaense seja publicado em seu estado e levado para os grandes centros consumidores. É a forma democrática de distribuir a literatura e, principalmente, a cultura..
Antigamente nos concursos vestibulares havia inclusão de questões sobre história, geografia e literatura regionais. Hoje, acredito que o malfadado Enem jamais colocará uma questão sobre uma obra de autor mato-grossense. E no que se refere à história e geografia nada que não esteja intrinsecamente ligado à pecuária e à produção de grãos.
Monteiro Lobato escreveu: Um País se faz com homens e livros. Acredito piamente nessas sábias palavras e avanço um pouco mais: a leitura é uma das mais importantes ferramentas para que possamos preparar a formação dos homens de amanhã.
sábado, 26 de novembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário