sábado, 26 de novembro de 2011

A COPA É NOSSA! NOSSA?

Pelo que venho lendo tenho a enorme sensação de que os governantes dos estados cujas capitais abrigarão partidas da Copa de 2014 acreditam que a partida está totalmente ganha, mesmo antes de o juiz apitar o início da partida. Muitos acham, ou pelo menos demonstram, que o principal é construir os estádios. O resto é resto. Enganam-se redondamente. O dito pelo pesquisador de Transporte da Universidade de Brasília (UnB), Artur Morais pode ser aplicado a todas as cidades-sede: “o aeroporto [de Brasília] está saturado e obras, como a do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) podem não estar concluídas até lá.” E o pesquisador continua: “o transporte público em Brasília é malfeito, mal planejado e mal operado.”

Exceção feita a Curitiba que possui, a meu ver, o melhor sistema de transporte público brasileiro, as demais cidades estão reprovadas neste importante item para atendimento daqueles que pretendem assistir aos jogos da Copa.

Os aeroportos caóticos. Basta vermos um feriadão. O secretário-geral da FIFA Jérome Valcke disse, recentemente “que era um ‘pesadelo’ viajar na capital paulista: saímos do aeroporto às 8 horas e chegamos ao destino só ao meio-dia...”

O gargalo da Copa de 2014 está mesmo centralizado na infraestrutura e dificilmente o tempo que falta para a realização do evento compromete, em muito, a consecução de todas as obras necessárias.

Incompetência generalizada, pois no dia 30 de outubro de 2007 o mundo inteiro assistiu ao sorteio que escolheu o Brasil como sede da Copa de 2014. Estamos em 2011 e um número sem fim de obras ainda sequer começou.

Quais motivos levaram a Confederação Brasileira de Futebol e o próprio governo brasileiro a ignorar o desejo de investidores da União Europeia em investir pesadamente em obras de infraestrutra para a realização da Copa? Os empresários europeus temiam calote ou temiam que os pedidos de propina reduzissem drasticamente seus lucros? São perguntas para as quais jamais teremos respostas.

Tenho por mim que o custo estipulado para a realização de todas as obras necessárias para que a Copa seja um evento de primeira grandeza será, no mínimo, triplicado.

Os organizadores estão mais preocupados com as brigas entre os clãs do que com a transparência nos gastos. De passagem, não é nenhuma novidade.

Alguns articulistas já mostraram a preocupação com a rede hoteleira, mostrando que em muitas cidades, após a Copa 2014 haverá quebradeira, porque muitos hotéis não conseguirão atingir a cota mínima de ocupação desejável. Citam Manaus como exemplo.

E quanto aos estádios? Qual será o destino dessas luxuosas construções? Arena multiuso. Nome pomposo, para um investimento público de retorno duvidoso. Teremos inúmeros restaurantes! Mas teremos clientela que justifique o arrendamento de cada uma das unidades?
Quantos shows por ano cada estádio abrigará? Temos artistas ou espetáculos que lotarão cada um deles, trazendo o esperado retorno do investimento.

Não quero ser cético, mas acredito que nem em dez gerações o dinheiro empregado será amortizado plenamente.
Quantas cidades-sede possuem times de futebol que levarão trinta mil torcedores por partida? Contamos nos dedos: Grêmio, Internacional, Coritiba, Atlético Paranaense, São Paulo, Corinthians, Palmeira, Santos, Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, Bahia, Vitória, Santa Cruz, Santa Cruz, Esporte e Náutico.

Como falar em futebol no Rio Grande do Norte, Amazonas, Brasília e Mato Grosso. O público nestas quatro cidades é vergonhoso. Analisando, sem paixão, a bilheteria não dá para custear a energia gasta em um jogo noturno, quanto mais para amortizar a construção do estádio, isto sem levar em conta que, praticamente, não têm times disputando a Série B do Campeonato Brasileiro, a famosa Segundona, porta de entrada para a elite do Campeonato Nacional.

Oito sedes, como ocorria, eram mais do que suficiente para atender ao calendário da Copa. Inventaram doze para agradar governadores, se esquecendo que somos nós, o povo, os responsáveis pelo pagamento da despesa.

Para que o fracasso não seja maior o Governo Federal terá que investir maciçamente na atração de turistas pós realização da Copa do Mundo de 2014, a salvação de estados como Rio Grande do Norte, Amazonas e Mato Grosso para gerar renda e impostos suficientes para cobrir o investimento empregado nas obras de infraestrutura e construção de estádios.

Resta-me torcer para que a seleção brasileira não repita o vexame de 1950. Diga-se de passagem que poderemos até ostentar o título de País do futebol, mas já não reinamos absolutos em primeiro lugares, livres de concorrentes. O exemplo foi dado no Gabão e no Egito, míseros dois a zero, em seleções que há vinte anos praticamente inexistiam. Para nos livrar do vexame talvez fosse melhor convocar a seleção da Marta, Cristiane e Formiga, acho que a meninas brilhariam muito mais.

Em outra oportunidade voltaremos a falar sobre a realização da Copa de 2014, pois o povo sonha muito mais com a possibilidade da geração de emprego e renda do que com a seleção brasileira hexa campeã..


Romulo Nétto é jornalista e escritor, autor de onze livros, editados pela Carlini & Caniato Editorial

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