sábado, 26 de novembro de 2011

A DOENÇA DO EX-PRESIDENTE

Tudo bem você não gostar de uma pessoa. Tudo bem se você não gostar de políticos. A gente já está cansada da inutilidade deles. Mas chegar ao cúmulo de desejar a morte de um político após constatar um câncer na laringe chega às raias da ignorância.
Não gosto do senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Nunca gostei. Não votei nele. Se candidatar não votarei. Mas meus olhos e ouvidos permitem ver e ouvir o que de bom ele fez. Confesso que seria hipócrita acreditar que ele fez tudo sozinho, esquecendo que o início da virada começou no governo Itamar Franco, após os desastrosos José Sarney e Fernando Collor. Os dois incompetentes quase levaram o País à ruína.
Com o lançamento do Plano Real foi dada a partida para que a economia começasse a crescer.
Houve erros? Sim! inúmeros. Muita roubalheira nas privatizações e nas emendas parlamentares. Mas não vivemos no País onde se admite abertamente, em alto e bom som: “ele rouba, mas faz!” É quase uma instituição nacional.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi correto? Lógico que não. Enquanto presidente da República ele tinha que manter distância da disputa entre os candidatos à sua sucessão e não o fez. Agiu de má fé jogando todo o peso da máquina administrativa pública com o intuito único de fazer de Dilma Rousseff sua sucessora. Conseguiu, mesmo sem meu voto.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o terceiro membro da família a ter um câncer de laringe diagnosticado. Não é motivo para soltar foguete. Pelo contrário. Devemos sabê-lo saudável, quem sabe infligindo fragorosa derrota a seu candidato nas próximas eleições. Devemos pensar em enterrá-lo politicamente, não fisicamente. Ninguém morre de véspera. Não deixemos que o câncer o transforme em mártir. Ele é tão humano quanto nós, só que mais rico e mais poderoso.
Aos sessenta e cinco anos tenho muitas coisas que ele não tem e dificilmente terá: paz de espírito, instrução, educação, amigos desinteressados, relativa saúde.
Vamos torcer para que o tratamento quimioterápico seja coroado de êxito e que o radioterápico complete o trabalho.
Ele não merece o tratamento postado por milhares de usuários das redes sociais. Deixem-no em paz. Só o susto de saber-se doente. De saber que ele tem grande parte da culpa desse câncer ter aparecido (tabaco e álcool) deve tê-lo consumido nesses dois primeiros dias...
Ninguém morre de véspera. E o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva não será o primeiro.
Deixemos que ele curta em paz sua aposentadoria presidencial e que não volte a nos perturbar nos próximos anos. Porém, não podemos nos esquecer que ele deu continuidade a inúmeros bons projetos idealizados por seus antecessores. A criança é linda, aí ele gritou: eu sou o pai.
Em seus oito anos de governo ele fez alguma coisa boa. Com Fernando Henrique Cardoso os pobres começaram a usar dentadura e comer pé de frango. O ex-presidente foi mais sofisticado aumentou o rendimento dos programas sociais e as famílias puderam iniciar a compra frenética de eletro-eletrônicos, se endividando até não mais conseguir pagar as contas. Aprendeu que pagando regularmente a conta do boteco da esquina, poderia beber tranquilamente seu corote de pinga.
Abriu as portas das universidades para os pobres, mas apenas para os cursos em que há mais vaga do que candidato. Criou escolas técnicas, institutos federais de educação e prazerosamente se esqueceu de equipar as universidades federais com recursos humanos de boa qualidade, abolindo quase de vez os concursos para professores e técnicos administrativos efetivos. Entupiu as universidades de prédios e equipamentos, bem assim de professores substitutos, servidores terceirizados e estagiários.
Nem por isso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva merece o tratamento carregado de maldades, exigindo que ele vá se tratar no Sistema Único de Saúde. Ora todos nós sabemos que os planos de saúde aos quais milhões de brasileiros pagam caríssimos mensalmente não são tão melhores que o SUS.
Acredito que, como ex-presidente, ele deva ter seus privilégios. Infelizmente no momento falta-lhe a saúde, o bem maior de todos nós. Vamos torcer para que ele se recupere. Vamos torcer para que ele lidere a luta que culmine com a diminuição da corrupção em todos os setores da sociedade, principalmente na política. Vamos torcer para que ele dê o exemplo condenando os que se escondem por detrás de um cargo político para fugir do rigor da lei.

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